segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Duas vidas

Coisa estranha!
Parece que tenho duas vidas
uma a que vivo, que diga-se de passagem, é feliz,
e a que imagino, onde viajo, me enxergo de outra maneira;
Felicidade nas duas sei que tenho
... quem sabe um dia elas se encontram
mas hoje sei que se complementam;

Duas vidas não duas caras
nem dois corações, por que um só me basta
tá batendo quietinho aqui, tadinho
tá feliz até, mas espera ainda
acontecimentos, que o farão agitar-se e trazer a tal da outra vida à tona.
coraçãozinho medroso, quer só felicidade

Por que minha outra vida,
trata de uma menina levada e brincalhona
que não quer mais saber de solidão,
seja lá de qual tipo: sozinha ou a dois
ela quer um amor tão leve, tão livre quanto ela
que seja menino também
que tenha a juventude espelhada nos olhos
e que cultive amigos
que se embebede de prazer e felicidade
e cujo abraço traga a proteção do homem
o frescor do amor
a leveza da amizade
e a paz de Deus ...

domingo, 23 de outubro de 2011

TRADUZIR-SE

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

Ferreira Gullar